Juliano Zimmermann de Freitas, diretor financeiro do Detroit Brasil, diz que a construção só foi possível porque o estaleiro hoje tem espaço para apostar em projetos diferentes. Durante o período de vacas gordas de encomendas para o setor petrolífero, o Detroit processou 12 mil toneladas de aço por ano na construção de novas embarcações. Como são projetos de longo prazo, o estaleiro trabalhou em capacidade máxima de 2010 a 2017. Hoje, a produção limita-se a 25% da capacidade total.
Poucos estaleiros continuam construindo no Brasil. Nós tivemos 75% de redução da demanda, mas enxergamos uma retomada do segmento de logística, com mudança de foco, de tipos de navios e de utilização, diz.
A empresa reduziu mil vagas de emprego nos últimos anos, mas manteve-se ativa. Em Itajaí e Navegantes, que formam juntas o polo da indústria naval no Estado, o número de trabalhadores reduziu 60% nos últimos quatro anos: de 10 mil vagas durante o boom do setor no país, quando os estaleiros anunciavam trabalho em carros de som pelas ruas de Itajaí, para menos de 4 mil atualmente. Em todo o país, 60 mil postos de trabalho fecharam nos últimos anos na construção naval.
Segundo informações do Sindicato da Indústria de Construção Naval de Itajaí e Navegantes (Sinconavin), dos cinco grandes estaleiros ativos em Santa Catarina, parte está em período de hibernação: não têm produção ativa, mas não desmobilizaram o parque industrial na expectativa de uma retomada próxima.
Há motivos para que as empresas evitem fechar as portas de vez. O barril do petróleo, que caiu vertiginosamente a partir de 2014 e chegou a US$ 25, gerando a crise mundial do setor, foi vendido nas últimas semanas a US$ 85. No Brasil, os recentes leilões de campos de exploração também trazem uma perspectiva otimista.
Por enquanto, o período eleitoral também contribui para incerteza quanto ao tempo que falta para a retomada das encomendas para o setor do petróleo. Grande parte dos investidores são empresas internacionais, que aguardam definições para tomarem decisões sobre os investimentos.
O Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval) entregou aos candidatos à Presidência da República, uma cartilha com propostas para evitar que o setor naufrague em políticas públicas equivocadas. Dos 28 estaleiros associados ao sindicato atualmente, 12 estão parados.
O Sinaval cobra uma iniciativa do Estado que estimule o setor para evitar um desmonte semelhante ao ocorrido na década de 1980, quando quase todos os estaleiros brasileiros fecharam as portas. De acordo com Theiss, do Sinconavin, os estaleiros catarinenses não tiveram novas encomendas do setor petroleiro desde 2015.
O fato é que, com novas frentes de trabalho em campos de exploração de petróleo e gás, as encomendas tendem a voltar gradativamente à indústria. As previsões apontam para retomada em um período de dois anos.
Reparos ocupam mão de obra
Enquanto um novo período de crescimento não chega, os estaleiros offshore catarinenses também apostam na chamada docagem, a manutenção de embarcações que estão em atividade. Na última década, por falta de espaço devido às encomendas para o setor de petróleo, o Estado abriu mão desse tipo de trabalho. O resultado foi a migração dos reparos para estaleiros do Rio de Janeiro.
A indústria naval está inaugurando esse ciclo de reparos como produto, algo que não se trabalhava há pelo menos 10 anos em SC, diz o diretor financeiro do estaleiro Detroit Brasil.
Em agosto, a Petrobras anunciou que pretende fazer docagem de 17 de seus navios no ano que vem, um negócio que pode atingir alguns milhões de dólares, conforme disse na época o gerente executivo de Logística da estatal, Claudio Mastella, e ajudar a manter empregos enquanto as novas encomendas não vêm.
Em SC, onde a capacidade de produção dos estaleiros é muito maior do que a demanda atual, é pouco provável que o parque industrial cresça nos próximos anos. Mas, num cenário de retomada, espera-se a reativação das vagas de trabalho em um setor que tem limites de mecanização, o que favorece a mão de obra especializada.
Freitas, do Detroit Brasil, diz otimista que há estaleiros que estão há dois anos sem qualquer atividade, mas com conhecimento técnico e capacidade de investimento para retomar a construção naval a qualquer momento.
Linha do tempo
A Petrobras anuncia a descoberta de petróleo na camada do pré-sal. A notícia traz perspectivas de crescimento
É extraído o primeiro barril de petróleo do pré-sal. Os estaleiros Itajaí e Detroit Brasil anunciam investimento de R$ 25 milhões para suprir a demanda por novas embarcações de apoio à exploração.
O grupo Keppel Offshore & Marine, de Singapura, compra o estaleiro TWB, em Navegantes, que passa a se chamar Keppel Singmarine. A expectativa de investimento em ampliação é de R$ 50 milhões.
O fundo de investimentos P2 Brasil anuncia a construção do estaleiro Oceana, em Itajaí, que teria a pedra fundamental lançada no ano seguinte. A previsão de investimentos era de R$ 670 milhões.
O preço do petróleo começa a cair internacionalmente, um prelúdio de problemas com a produção local. Ao mesmo tempo, tem início a Operação Lava Jato, que traria uma crise de confiança à Petrobras.
O preço do barril no mundo cai e as encomendas do setor de petróleo estancam. 1,8 mil trabalhadores da metalúrgica portuguesa Amal são dispensados. As demissões se espalham por todas as empresas do setor.
O número de trabalhadores do setor naval offshore em Itajaí e Navegantes cai pela metade.
A Huisman Brasil, braço catarinense da gigante holandesa Huisman, especializada em equipamentos para exploração de petróleo e gás, anunciou o fim das atividades em Navegantes e coloca a estrutura em stand by
Estaleiros apostam em serviços de docagem e na construção de embarcações voltadas a outros setores. Há expectativa de retomada das encomendas para o setor petroleiro.
Fonte: A NOTÍCIA (SC)